De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), desde o nascimento, as crianças participam de situações de comunicação com pessoas com as quais interagem no cotidiano. Conforme cresce em uma sociedade letrada, a criança manifesta curiosidade em relação à cultura escrita ao ouvir e acompanhar a leitura de um adulto e ao observar os diferentes textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar. A partir dessa observação, ela constrói hipóteses sobre o que é a escrita, reconhecendo os diferentes usos sociais dessa tecnologia e de seus suportes.

Apesar de já conhecerem a escrita e suas funções em sentido amplo, os alunos precisarão descobrir que as unidades que instanciam a língua escrita, ou seja, os textos, não são produzidas nem lidas sem o estabelecimento de relações externas. Todo texto, no momento de sua produção, vincula-se a uma série de textos anteriores, relacionando-se ou indo de encontro a eles. Ao mesmo tempo, cada leitor e cada leitura confronta o conteúdo textual com conhecimentos adquiridos previamente em outros textos, podendo produzir diferentes sentidos. Considerando esse fato, o trabalho didático-pedagógico com o ensino de leitura e de escrita requer uma análise aprofundada em torno da natureza dos textos e dos modelos que regem a sua produção, isto é, os gêneros textuais ou discursivos.

Mas o que se pode entender por gênero discursivo? Segundo Bakhtin, os gêneros discursivos são modelos que orientam a produção de textos no cotidiano. Ao escrever um texto, o autor precisa estar ciente daquilo que quer comunicar, do efeito que deseja produzir no interlocutor e da ação que espera produzir no meio. Para isso, ele selecionará o gênero que melhor atende a esse objetivo. Assim, por exemplo, quando desejamos deixar um recado simples, escrevemos um bilhete e não uma carta.

Considerando esses pressupostos, os Recursos Educacionais Digitais (RED) desenvolvidos buscam pautar o ensino de leitura e de escrita a partir da utilização de textos, mostrando como estes se relacionam com a tradição e, principalmente, com o uso funcional no cotidiano. A seleção de gêneros textuais parte da evidência de que eles estão presentes no cotidiano das crianças, analisando se contribuem efetivamente para a construção de competências de comunicação e para uma consequente atuação mais autônoma e crítica dentro das sociedades letradas.